Carga blindada

08/12/2016 às 3:25 - Atualizado em 08/12/2016 às 3:27

Insegurança nas estradas leva empresa de transporte de valores a se dedicar a carga rodoviária e usar caminhão blindado Scania especial

A insegurança nas estradas brasileiras chegou a tal ponto que já temos transportadores utilizando caminhões blindados na transferência de cargas especiais e de elevado valor com muito sucesso. Não que isso seja novidade, mas o relevante é que a maior parte destes deslocamentos não ocorre para transporte de moeda e sim para cargas mais visadas pela bandidagem.

Assim, com o crescimento freqüente dos roubos de carga, esse tipo de veículo de carga pode se transformar em padrão daqui a poucos anos, especialmente na região sudeste, onde ocorrem 85,8% de todas as ocorrências de roubo e assalto do país, destaque  para o Estado de São Paulo, que responde sozinho por 44,1% dos casos.

Correspondendo a essa demanda, a Scania acaba de lançar um caminhão blindado P250 8×2 em parceria com a implementadora MIB, uma das mais tradicionais fabricantes de blindados do Brasil.

Essa primeira leva de blindados, seis unidades, foi encomendada pela Esquadra Transporte de Valores e Segurança, de Belo Horizonte, uma empresa que percebeu a importância de oferecer um serviço de alta confiabilidade na área. Um grande negócio decerto. “Existem inúmeros exemplos que sustentam nosso serviço, pois é extremamente caro utilizar transportadores comuns para esse tipo de missão”, diz Gilmar Fagundes, diretor presidente da Esquadra.

Para ele, embora englobe os custos com equipamento rodante, a blindagem do veículo; o treinamento do pessoal e todo arsenal de certificações, tanto do veículo, do pessoal de segurança, a empresa consegue oferecer um serviço completo mais econômico em até 25% que companhias que têm que contratar transportadora, escolta, gerenciadora de risco e apólice de seguro de elevado valor e restritiva ao mesmo tempo.

Em apenas três anos, a ideia mostrou resultados além do esperado. O crescimento da empresa de 2014 para 2015 chegou a 40% e os R$ 295 milhões faturados em 2015 engordarão para R$ 350 milhões este ano, registrando uma evolução de 18,6% durante o ano de maior crise econômica do país em décadas. Esse faturamento mostra um crescimento de 6% de participação da empresa no mercado brasileiro – a frota da Esquadra conta com 60 caminhões.

Especialista em segurança, Fagundes observou a dificuldade de grandes embarcadores de distribuir produtos de elevado valor através de um país continental e com índices de violência sem par. “Imagine um fabricante de celular com um lançamento mundial a cumprir e centenas de lojas a abastecer sem dispor de transporte confiável e totalmente seguro?”, pergunta ele.

Este é apenas um exemplo de dezenas. O transporte por caminhões blindados nasceu exclusivamente para o transporte de valores em veículos pequenos no século passado. Os caminhões de grande porte vieram bem depois, para atender a um transporte também pesado, o de moedas desde a Casa da Moeda.

Com o acirramento dos roubos de carga, finalmente veio a idéia de usar caminhões blindados para o transporte de cargas. Para se ter noção do sucesso da iniciativa, a Esquadra registra atualmente no seu faturamento apenas 35% referem-se a serviços para instituições financeiras, enquanto nada menos que 65% são atribuídos às cargas de alto valor.

Fagundes elenca entre estes os eletrônicos celulares, tabletes, notebooks, além de obras de arte, produtos farmacêuticos, derivados de tabaco, perfumaria e cosméticos e muito mais. “A grande diferença – adiciona ele – está na cobertura de seguro para um carro com tal proteção em vez de um caminhão comum.”

Com o caminhão blindado no nível 3, o maior disponível, as seguradoras admitem carregamento com valor de até R$ 21 milhões contra R$ 7 milhões nos caminhões convencionais, com escolta, rastreamento etc. “Mas podemos movimentar cargas de mais alto valor ainda com resseguro junto ao Lloyds Bank inglês, a maior seguradora do mundo”. Este é o caso de obras de arte, por exemplo.

Depois de muito pesquisar e atuar no segmento, Fagundes e seus técnicos chegaram à conclusão que o tamanho ideal do carro seria um cofre com 44 m³, com trem de força 100% confiável e força suficiente para possibilitar a maior parte dos escapes e vencer rampas de mais de 7%, a máxima rampa nas estradas brasileiras em velocidade.

Estabelecidos os parâmetros, veio a consulta à Codema, que pediu reforço à Scania. Celso Mendonça, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Scania também pediu reforço, desta vez à MIB Blindados, de Itaquaquecetuba, SP, que desenvolveu o cofre blindado.

Resultado, o chassi escolhido foi um Scania P 250 8×2 com entre-eixos de 5,5 m e capacidade para 33,2 toneladas e comprimento de 12 m. O bastante para absorver o aumento da tara de 9,6 t para 16 toneladas, o bastante para as cargas de maior densidade do mercado. Além disso, a altura da plataforma permite o estacionamento em docas de 1,5 a 2,0 metros de altura, graças à suspensão a ar integral do chassi.

A ideia surgiu com os funcionários da Codema, concessionária Scania em Guarulhos, SP, para viabilizar demanda da Esquadra por um caminhão blindado para o transporte de carga de alto valor agregado.

“O blindado obedece todos os requisitos inclusive velocidade máxima de 120 km/h e vence rampas de até 10%”, diz Mendonça. Portanto, segue a ABNT 14096 em 75%, a norma usada para carros de Bombeiros.

“O desafio foi fazer uma cabina monobloco, para atender a todos os requisitos de segurança”, confessa Alexandre Ferreira, gerente corporativo Comercial da MIB Blindados. Além de toda a blindagem, foram instaladas quatro fechaduras eletrônicas.

Também por essas dificuldades, o blindado completo custa R$ 620 mil, custo praticamente dividido entre chassi e blindagem. O custo do chassi é de R$ 320 mil e o da blindagem chega a R$ 300 mil. Como precisa de um raio de giro pequeno, o eixo direcional permite que o veículo gire igual a um 6×2.

“O número de roubos cresceu quase 50% desde 2010, atingiu 17,5 mil em 2014 e a 19,25 mil no ano passado”, diz Fagundes, para quem é um orgulho dizer que a Esquadra, embora tenha movimentado cargas que somam R$ 300 milhões no total, não registrou qualquer sinistro desde o inicio das operações.

Os números são da NTC e equivaleram, no último ano, a prejuízos de R$ 1,12 bilhão. Nos últimos cinco anos, segundo a associação, a incidência de roubo de cargas no Brasil aumentou 48%, com um prejuízo acumulado de 5 bilhões de reais.

Por isso, tanto investimento em equipamentos e pessoal. Para se ter ideia, o Scania P 250 em questão, do consumo normal geral de 4,8 km/l registra marca de 3,5 km/l com o peso da blindagem.