Daimler apresenta o veículo Future 2025

24/07/2016 às 5:26 - Atualizado em 22/09/2016 às 4:20

Os caminhões de condução autônoma permitem ao motorista as mais diferentes atividades durante a viagem

Daimler apresenta o veículo Future 2025, o primeiro cavalo-mecânico de condução autônoma, um protótipo modelo para o caminhão da próxima década

Desde o século passado, de tempos em tempos, os veículos drive less unitários ou em comboio, aqueles que dispensam o motorista, são tema frequente nas previsões dos futuristas, a respeito das novas tecnologias que serão incorporadas aos veículos automotores.

Recorrentes também são os anúncios das possibilidades que a TI trará, sempre acompanhados de declarações socialmente corretas das engenharias de que “jamais” se imaginou a concepção de veículos totalmente operacionais sem o concurso de um motorista.

Esta é uma meia verdade, no mínimo. Em veículos não segregados por guias ou trilhos tudo bem, pois aí o nível de complexidade vai muito além do que simplesmente acelerar, diminuir a velocidade e parar. O grande salto que assistimos no inicio deste segundo semestre foi a apresentação do veículo Future 2025 apresentado pela Daimler, na cidade de Magdeburg, na Alemanha.

O protótipo do primeiro veículo comercial pesado de condução autônoma foi concebido sobre um chassi Actros 1845 e anunciado como veículo que possibilita a máxima otimização da operação, agregando elevada eficiência e substancial redução no consumo e das emissões, além de poupar o motorista de jornadas estafantes.

A tecnologia tem realmente evoluído muito nas ultimas décadas, na busca da maior eficiência da explosão e agora, quando o teto da rentabilidade energética do velho motor diesel chega ao esgotamento, as atenções cientistas voltam-se para a operação propriamente dita.

Lá trás, ainda no século passado (1980), a própria Daimler, que então incorporava Benz ao nome, havia lançado uma idéia futurística: o sistema O-bahn de ônibus, cujos traçados contavam com canaletas exclusivas. Era tão futurística que ficou a esperar este novo período.

No entanto, não se pode negar que as coisas têm evoluído numa velocidade supersônica nos últimos tempos. Alguns anos atrás a engenharia do metro de São Paulo já admitia que as composições podiam mesmo dispensar o maquinista e que o impeditivo a isso eram o sindicato dos funcionários e a sensação de insegurança que provavelmente invadiria as mentes dos passageiros.

A linha 4, construída e operada pela iniciativa privada, já surgiu com condução autônoma integral ou drive less. Para afastar qualquer má impressão, e também para elevar a segurança dos passageiros em plataformas lotadas – já que as composições ainda não enxergam-, as estações desta linha têm fechamento por vidros, que se abre apenas depois de a composição totalmente parada.

Voltando aos veículos rodoviários, o Mercedes-Benz Future Truck 2025 é o primeiro protótipo do caminhão que roda nas estradas européias e deve estrear comercialmente daqui há 10 anos. Ele reúne os atributos mais desejáveis à essa máquina: conforto, economia e segurança máximos.

Para a montadora líder na produção mundial de caminhões de alta tecnologia daqui uma década o motorista de hoje assumirá a condição de gestor de transporte, tendo à sua disposição veículos de condução autônoma, que lhe permitirão ao longo da rota fazer outros trabalhos ou simplesmente descansar com toda segurança, mesmo com o caminhão em movimento.

A própria cabina será de um nível ainda impensado, integrando um design que separa o habitáculo em dois: um posto de comando e uma área de descanso, escritório e alimentação. O que tudo isso permitirá? Um nível de qualidade elevado para o gestor de transporte e um eficiência operacional só possível com ampla conectividade dos aparatos eletrônicos integrados ao veículo.

Serão, de fato, novos tempos para os segmentos de transporte e logística. Tanto assim que a legenda do Future Truck foi resumida como “Shaping Future Transportation”, ou Moldando o Transporte do Futuro. Para chegar em 2025 tinindo, o protótipo já provou sua desenvoltura até a velocidade de 80 km/h em trafego normal, num trecho recém inaugurado da mais nova autobahn alemã, a A14, que cortará a Alemanha de norte a sul.

Realmente, o futuro passou à nossa frente, visto de uma arquibancada montada à beira das pistas. Em velocidade cruzeiro, o motorista acionava o “piloto automático” e deslocava seu banco para o lado em diagonal, hora consultando algo no laptop, hora espreguiçando-se sossegado, outra vez fazendo uma refeição.

Tudo isso observado pela assistência de olho num grande telão instalado do outro lado das pistas e que mostrava as imagens de uma tela no interior da cabina, outra que dava a visão do motorista e outras externas. Muito bom.

Evidentemente o que vem à mente de um habitante de país em desenvolvimento é quanto custaria tal sofisticação. Não vem nem ao caso, lógico. E até lá, convenhamos, a concorrência deverá ser tão forte que o kit futuro certamente vai virar item de série, do presente.

Nesse campo, segundo a professora Sabina Jeschze, da universidade de Aachen, a primeira luz veio com a descoberta do campo magnético, em 1950, depois, nos anos 70, os japoneses descobriram como máquinas poderiam detectar objetos a até 30 km/h e a terceira geração chegou com os veículos inteligentes dos anos 90, com percepção por laser em vez de ondas.

Para ela estamos entrando na quarta geração, a do Google car, que teve inicio em 2012, quando através de um software, o Chauffeur, um cego conseguir tirar a carteira de motorista no estado de Nevada, nos EUA. “Definitivamente estamos a caminho da inteligência artificial”, diz Sabina.

A cientista diz que a cadeia de leitura de informações semânticas, que combinam denotações a palavras, símbolos e sinais para o estudo do significado, está sendo concluída. A conectividade a 2 MHz entre dezenas de aplicativos dentro da máquina e fora dela é que permitirá tal avanço. Uma ferramenta como o Street View, do Google Earth, por exemplo, faz com que o veículo passe a conhecer estradas, ruas e seus entornos, com uma memória que jamais iremos alcançar.

Com um número de informações absurdas, em escala de Terabits, e a visão de sensores e radares de alta precisão, a melhoria da eficiência será resultado da antecipação das decisões e de uma massa de veículos interligados em rede.

Estudos realizados pela Liga de Logística Alemã, segundo Sabina, provaram ser possível economizar 10% no consumo e 5% na manutenção com essa “conversa” veicular. “Os veículos poderão trocar informações instantâneas sobre a pista de rolamento, o clima, acidentes etc para antecipar reações aos acontecimentos e incrementar sobremaneira a segurança nas estradas”, prevê. Ou seja, “eles” estarão interconectados via internet. Estes caminhões High Tec poderão, até 2030, transportar 40% a mais de carga do que atualmente.

Com foco no motorista, a União Européia capricha nos investimentos para desenvolver soluções que façam a profissão mais atraente para os jovens. “Precisamos fazer uso inteligente das estradas na busca da sustentabilidade do transporte e já cogitamos a revisão da regulamentação, especialmente no que engloba os caminhões pesados”, adianta.

Um sistema esta sendo desenvolvido para acelerar informações das rodovias, com dados precisos sobre congestionamentos, estacionamentos, áreas de descanso, acidentes etc, enfim, tudo o que interfere com o fluxo normal de veículos e de condições de apoio aos condutores.

Even Emnerst, responsável pela Engenharia de Produto da Daimler, acrescenta que o caminhão apresentado tem como principal meta incrementar a segurança nas estradas, pois 90% dos acidentes são atribuídos a erros do condutor. “Nos testes que fizemos, 80% dos motoristas aprovaram integralmente a solução”, lembra o especialista Emnerst.

O executivo reforça a necessidade de adaptar a legislação, pois o sistema foi desenvolvido para suportar trabalhos pesados e garantir segurança operacional para baús de até 300 m³. “Vivemos num tempo em que os índices de urbanização romperam a barreira dos 50% e é preciso reagir a isso”, adiciona o prof. Dr. Uwe Clausen, diretor do Instituto de Transporte e Logística na Universidade de Dortmund e diretor do Instituto Fraunhofer para o Fluxo de Mercadorias e Logística.

Para Clausen, que também foi diretor da Amazon, no novo status quo que logística deverá assumir, o custo do veículo vem em quarto lugar, atrás de itens de sustentabilidade, eficiência e segurança. “A tecnologia será mais importante, com vistas à parametrização e troca de informações para redução de custos de combustível e manutenção, assistência à frenagem e reconhecimento de veículo lento à frente”,considera ele.

O Future Truck 2025 integra o “Highway Pilot”, ou Piloto rodoviário, num chassi com potência de 449 cv e torque máximo de 2.200 Nm, força governada pelo câmbio totalmente automatizado Mercedes PowerShift 3, de 12 marchas.

O desenho da semirreboque foi elaborado com base no Aerodynamis Trailer da própria montadora e totalmente equipado com inibidores de turbulência na frontal e traseira e defletores (saias laterais). Há projetos que deformam o teto se o reboque estiver vazio. A otimização aerodinâmica do protótipo permite reduzir o consumo de diesel em 5%.

Na parte inferior da cabina um radar rastreia a região de curta distância à frente do cavalo-mecânico até 70 metros e num ângulo aberto de 130º, enquanto outro tempo alcance, até 250 m, mas em ângulo fechado, de 18º. A base desses dois sensores é composta pelo sistema de controle de proximidade e o servofreio de emergência.

No interior do cavalo, uma câmera estereoscópica foi colocada sobre o painel de instrumentos varre a área situada à frente. A máquina tem alcance máximo de 100 m e área correspondente ao ângulo de 45º na horizontal 27º na vertical.

Com essa estereoscópica o veículo identifica uma ou duas pistas da rodovia, pedestres, obstáculos estáticos ou em movimento e outros objetos. A câmera reconhece tudo o que se distingue do fundo para calcular precisamente o espaço livre disponível, além das informações dos sinais de trânsito e fazer o reconhecimento da pista.

Na monitorização das áreas da estrada são utilizados sensores de radar instalados nas laterais, montados à frente do eixo de tração, com alcance de 60 metros e num raio de 170º. Os sensores são interconectados em rede pela técnica de fusão multissensorial, com reconhecimento de todos os objetos do entorno.

A condução automática do veículo é possível com a fusão de todos os dados obtidos pelos sensores, radares e câmeras, que são reunidos e compartilhados pelo computador central. Este tem um processador de múltiplos núcleos de alta potências que possibilita que o veículo “veja” tudo o que o cerca. E com maior amplitude que nós – o olho humano tem um campo visual de 150º, mas a área nítida  é apenas uma fração disso.

A precisão dos equipamentos é tão elevada que o Truck 2025 reconhece o acostamento, com a ajuda de linhas delimitadoras; identifica o traçado da estrada, analisando as bordas de calçadas, por exemplo, as proteções laterais, vegetação etc.

Com todo esse aparato, o caminhão mantêm-se no centro da faixa da direita, quando o motorista ativa o modo autônomo. Dependendo do trafego, o Truck 2025 se afasta com total independência dos outros veículos e funciona com independência de outros usuários da rodovia graças à interconexão em rede, não pela formação de comboio. 

Para operar o cavalo-mecânico de condução autônoma não é necessário fazer nenhum curso na NASA. Basta ao motorista, depois de entrar na rodovia, manter-se na faixa da direita e, a partir do momento em que alcançar a velocidade de 80 km/h, o próprio painel oferece a opção “Highway Pilot”. O condutor então ativa a função através do volante multifuncional.

A partir daí, com o veículo “lendo” a estrada e a situação do trafego ele se afasta com total independência de outros veículos, ele tampouco precisa de outros carros à frente para orientação porque “enxerga” faixas, acostamento, sinalização e toda a vizinhança da pista.

Com o Highway ativo, o motorista pode girar o banco num ângulo de 45º à direita para assumir posição de trabalho ou descanso. Especialmente em trajetos de autopistas longas e monótonas e pode revolucionar também a legislação da jornada de trabalho.

Enfim, abre-se assim uma nova era para o transporte rodoviário de carga, que deverá sepultar definitivamente o motorista atual. “A condução autônoma provocará grandes mudanças na profissão de motorista, que disporá de tempo para outras ocupações como tarefas mais variadas e menos desgastantes, o que tornará mais atraente a profissão”, sacramenta Klaus Ruff, assessor de gerência da BG Verker – Associação Alemã Profissional de Transporte e Tráfego.