Quais as condições do transporte ferroviário no Brasil?

04/04/2019 às 5:14 - Atualizado em 29/03/2019 às 5:19

Há muito tempo ouvimos dizer que o transporte ferroviário pode um dia se tornar mais importante no Brasil, equiparando-se ao rodoviário. Afinal, esse é um sistema de deslocamento rápido, que comporta grandes quantidades e que traz menos danos ao meio ambiente. Mas então, por que ele é tão ignorado por diversos governantes?

Para responder essa pergunta, é importante traçar um panorama das ferrovias no passado e nos dias de hoje. Assim, é possível analisar em qual momento esse modal começou a ser deixado de lado e quais medidas necessárias para retomar o seu crescimento.

Breve retorno ao passado

Em 1960, o governo brasileiro da época optou por dar prioridade ao sistema rodoviário. Essa decisão foi tomada pelo alto investimento no país das indústrias de carros e caminhões da época, e por causa da eficiência desse modal em pequenas e médias distâncias.

No raciocínio da época, as ferrovias atrasariam a industrialização do Brasil e demandariam mais investimentos. Essa opção foi a escolhida por muitos governos durante os últimos 60 anos, o que ajudou para chegarmos na atual configuração dos modais no Brasil.

Atualmente, o sistema ferroviário constitui apenas 21% do escoamento de todo o transporte nacional de cargas. As rodovias, dominantes nesse aspecto, realizam 63%, as hidrovias 13% e o setor aeroviário junto com os dutos participam de 3% desse processo.

Como está o sistema ferroviário atualmente?

O Brasil possui graves problemas com a utilização das ferrovias ao longo do território nacional. De acordo com dados de um recente levantamento da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Brasil não utiliza cerca de um terço de toda sua malha ferroviária.

Essa questão é extremamente problemática, já que dos 23 mil quilômetros de ferrovias, 8,6 mil estão em estado de total abandono.  Desses, 6,5 mil quilômetros sequer podem ser utilizados, mesmo se esse for o desejo de alguma empresa ou do governo.

Nesse contexto, um dado, no mínimo curioso, é a falta do transporte das commodities brasileiras nas rodovias. Isso porque, de toda a carga transportada nesse modal, cerca de 77% está relacionada ao minério de ferro.

Mas como reverter esse quadro? O centro-oeste é o maior produtor de grãos do mundo e sua produção não é escoada por ferrovias, modal mais indicado para esse tipo de transporte em quantidade e com eficiência.

Por que não investir nas ferrovias?

É um consenso entre os especialistas de que o principal motivo para a falta de investimentos no modal é a falta de planejamento. Isso porque, as ferrovias são um projeto para longo-prazo, o que desestimula muitos governantes a investirem em algo que não será terminado em seu mandato.

Por outro lado, mesmo que um projeto seja iniciado, é necessário que o governo posterior continue os planos e mantenha os investimentos. E finalmente, outra questão que deve ser solucionada, é o tempo das concessões no sistema de transporte ferroviário brasileiro, que são de apenas 30 anos.

“O planejamento de uma ferrovia é de longo prazo, estamos falando em 60, 70 anos. É absurdo ter que renegociar com o governo nesse prazo que vocês têm. Vocês precisam se perguntar se o modelo de ferrovia funciona assim mesmo”, argumenta o ex-conselheiro do Surface Transportation Board, Raymond Atkins.

As ferrovias são excelentes investimentos para o Brasil

Quando comentamos os benefícios das ferrovias, é possível estabelecer um tipo de comparação com as rodovias, modal mais utilizado no país e que recebe mais investimentos do poder público.

Nesse contexto, o principal argumento para defender as ferrovias são os critérios econômicos. Existem diversos estudos e cálculos que preveem um gasto 30% menor para transportar a mesma quantidade de carga nos dois modais.

Além disso, as ferrovias não possuem interferência externa, já que não enfrentam trânsitos e proporcionam menos acidentes. Outra característica dos trens é a alta eficiência, já que esse é um meio de locomoção que emite menos poluentes e possui uma capacidade de transporte muito maior.

Projetos do governo para o futuro

Em detrimento de todos os fatos citados, o Ministro da Infraestrutura recém-eleito, Tarcísio de Freitas, está propondo soluções para o “assunto ferrovias”. Segundo o político, a ideia do governo é iniciar a “retomada do transporte ferroviário”.

“O governo vai retomar o transporte ferroviário com um programa ambicioso, mas possível”, garante Tarcísio. Dessa forma, segundo ele, será possível dobrar a participação das ferrovias no transporte brasileiro até 2025.

Mas como isso é possível?

Para alcançar os objetivos do governo, Tarcísio Freitas pretende unir o poder público com o privado. Assim, por meio de leilões e concessões, o ministro deve estimular o transporte ferroviário e fazer com que ele movimente a economia, reduzindo o “custo Brasil” e gerando mais lucros para os transportadores e produtores de commodities.